Dude São Thiago lança versão dançante e ousada de “O Que Será”, de Chico Buarque.
- Nosso Som
- 16 de abr.
- 2 min de leitura

É preciso ousadia — e sensibilidade — para revisitar um clássico como “O Que Será (À Flor da Pele)”, de Chico Buarque, sem cair na armadilha da reverência excessiva ou da ruptura gratuita. Em seu novo single, Dude São Thiago não apenas encontra esse equilíbrio: ele o subverte com inteligência e entrega uma versão que é, ao mesmo tempo, homenagem e reinvenção. A faixa, que antecipa o álbum O Sexo do Vento, é uma obra de sofisticação estética e potência emocional.
Sob a batuta criativa do arranjador Iuri Salvagnini, a canção ganha contornos inesperados com um danzón envolvente — um gênero de origem cubana que aqui se funde com elementos da MPB, criando um espaço sensual, rítmico e cinematográfico. A escolha não é aleatória: ao transformar o lamento contido de Chico em uma dança insinuante, Dude dá corpo ao que na versão original era sussurro — faz o desejo vibrar, suar, assumir-se por inteiro.
A interpretação vocal é um espetáculo à parte. Dude São Thiago canta com teatralidade contida e tensão latente, como se cada palavra fosse uma promessa não dita, um toque por vir. Essa performance revela uma camada muitas vezes subentendida na canção: o desejo como motor de transformação, como força política e pessoal. Aqui, o “o que será” não é apenas um enigma lírico — é um corpo em movimento, à flor da pele.
Importa dizer: essa releitura não busca competir com o original, mas dialogar com ele. E nesse diálogo, propõe algo raro — uma atualização estética e simbólica da obra de Chico, que preserva sua densidade poética enquanto a insere em novas atmosferas e narrativas. A produção é limpa, mas luxuosa; moderna, sem jamais soar desrespeitosa. É como se a canção tivesse esperado até agora para revelar essa outra face — mais carnal, mais dançante, mais livre.
Com “O Que Será (À Flor da Pele)”, Dude São Thiago afirma-se como um artista de visão, capaz de olhar para o cânone da música brasileira com reverência crítica, afeto e irreverência na medida exata. É uma aclamação à coragem de reimaginar o intocável — e sair do outro lado com uma obra própria, viva, pulsante.
Se o álbum O Sexo do Vento seguir nessa linha, podemos estar diante de um dos lançamentos mais instigantes da música brasileira contemporânea.
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