top of page

“Inocência”: a misteriosa faixa de Eu Comigo Mesmo e o Gato que hipnotiza na contramão do óbvio.


Num cenário musical cada vez mais dominado por algoritmos, fórmulas de sucesso e playlists descartáveis, surge um sopro raro de resistência poética: Inocência, a mais recente criação do enigmático projeto Eu Comigo Mesmo e o Gato. Envolta em rumores excêntricos — que vão de retiros místicos na Inglaterra a histórias de um felino coautor —, a obra desafia rótulos e convida o ouvinte a uma experiência quase ritualística.


À primeira audição, Inocência parece uma canção simples, contida. Mas não se engane: por trás da produção minimalista, da estética lo-fi e dos vocais entre o canto e o sussurro, esconde-se um universo de camadas que se expandem a cada nova escuta. Como descreveu uma fã devota, há algo de “hipnótico e transformador” na repetição. A letra, carregada de simbolismo, se desdobra de maneiras diferentes dependendo do momento, do silêncio ao redor, da disposição de quem a ouve.


A escolha estética é clara: Inocência recusa o polimento das produções convencionais. A crueza da gravação, os cantos ásperos preservados, os arranjos quase esqueléticos — tudo parece conspirar para manter a faixa imperfeita, frágil, profundamente humana. É justamente essa vulnerabilidade que cria uma intimidade rara, como se a música fosse um segredo sussurrado no ouvido.


Mas talvez o maior trunfo de Inocência esteja em sua recusa em ser imediatamente decifrada. Não há respostas fáceis, nem refrãos pegajosos. É uma obra que exige tempo, paciência, entrega. Uma música feita, paradoxalmente, para ouvir, não apenas tocar. Um convite à contemplação, à dúvida, à desordem dos sentidos.


No fim, talvez nem o próprio criador saiba exatamente o que Inocência quer dizer. Talvez o segredo esteja no ato de se perder dentro dela, permitindo que cada audição funcione como um espelho novo, um reflexo sempre mutável. Uma inocência redescoberta.


O que é certo é que ninguém sai ileso depois de ouvir. E, se há loucura na jornada, é uma loucura deliciosamente compartilhada. Porque, às vezes, é preciso ficar um pouco louco para encontrar a verdade escondida — entre um eu, um gato e uma música.



 
 
 

Comments


bottom of page