“Ver de Terre”: OUTED lança manifesto sonoro em forma de folk moderno e urgente
- Nosso Som
- 31 de mai.
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No seu terceiro álbum de estúdio, o projeto francês OUTED vai além do esperado. Não entrega apenas um novo conjunto de canções — entrega um manifesto musical, um gesto artístico carregado de intenção e significado. A faixa-título, “Ver de Terre”, representa com precisão o espírito desse trabalho: um folk contemporâneo, de raízes profundas e ramos voltados para o futuro.
Desde os primeiros acordes, a canção estabelece um tom orgânico e caloroso, quase artesanal. O folk aqui não é apenas uma escolha estética — é simbólico. Com sua conexão histórica à tradição e à resistência, o gênero serve como solo fértil onde OUTED semeia ideias ecológicas, sociais e humanas. A voz principal se impõe não pela potência, mas pela presença marcante e honesta, com um timbre que carrega textura e verdade.
A letra de “Ver de Terre” é um dos pontos altos da faixa. Com linguagem acessível, mas longe de ser simplista, a canção aborda temas urgentes como meio ambiente, respeito mútuo, consentimento e os limites do discurso de ódio. Há crítica, sim — mas há também compaixão. Há lucidez, mas com espaço para a poesia. Não se trata de atacar, mas de provocar a escuta. E em tempos de polarizações ruidosas, esse gesto é corajoso.
A produção assinada por Christophe Pulon acerta em cheio ao manter tudo no campo do essencial. Nada soa excessivo. O som respira, pulsa com vida própria. O baixo de Franck Bedez é firme e discreto, sustentando com elegância. A bateria de Ced Machi adiciona movimento sem ocupar demais. E as guitarras de Sébastien Hoog surgem como lampejos delicados, iluminando a paisagem sonora com sutileza.
Musicalmente, a faixa pode lembrar o espírito de artistas como Dominique A ou Jeanne Cherhal — não tanto pela sonoridade, mas pela abordagem: uma música que dialoga com o presente, que questiona o mundo sem perder a ternura. Cada elemento parece pensado para favorecer a escuta ativa: há espaço para a voz, para o silêncio, para a reflexão.
Com “Ver de Terre”, OUTED reafirma que a música ainda é uma das formas mais potentes de provocar transformação. A canção não se contenta em apenas tocar: ela quer mover, instigar, plantar — dúvidas, desconfortos, empatia. Sentimentos que, como a terra, só florescem com paciência e cuidado.
Se essa faixa define o tom do álbum, OUTED não entrega apenas um bom disco. Entrega uma obra necessária, relevante e profundamente humana — daquelas que não apenas passam pelos ouvidos, mas ficam na consciência.
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